POLÍCIA CIVIL AVANÇA NAS INVESTIGAÇÕES CONTRA GRUPO DE EXTERMÍNIO
Posted by Jarbas Rocha on agosto 13th, 2010
As investigações sobre crimes com características de execução realizadas por uma comissão de delegados da Polícia Civil avançaram nos últimos dias e resultaram na prisão do comerciante Eronildes Cândido de Oliveira, na segunda-feira, dia 9, sob acusação de ser o mandante de um homicídio e de uma tentativa de morte.
A investigação, em curso há um ano, dispõe de provas robustas da participação de três policiais militares em crimes de grupos de extermínio e pistolagem. Somente agora, com a prisão do comerciante, a polícia pode divulgar parte do que apurou e que fundamenta a manutenção da prisão de seis acusados, sendo três PMs. As provas são testemunhais e materiais, incluindo longas horas de filmagem e áudios. A investigação teve início a partir da formação de uma comissão composta por vários delegados de unidades especializadas. Esses policiais passaram a apurar os crimes com característica de execução na Grande Natal e, depois, em outros municípios. Durante o curso dos inquéritos, verificou-se que suspeitos de pistolagem, especialmente de casos ocorridos na Zona Norte de Natal, faziam parte do círculo de amizade de policiais militares lotados, principalmente, em São Paulo do Potengi. A Polícia Civil, então, passou a verificar esse elo entre os suspeitos e policiais. Em horas de vigilância é possível perceber que criminosos freqüentavam a unidade da PM em São Paulo do Potengi e até se locomoviam dentro de viaturas. No vídeo gravado durante vigilância realizada no dia 20 de abril, por volta das 11h30, os investigados Márcio Valério de Medeiros Dantas e Wesley Breno de Araújo, ambos atualmente presos sob acusação de homicídio, estão nas dependências da sede do Pelotão da PM de São Paulo do Potengi conversando com policiais militares.Posteriormente, ao analisar a imagem em conjunto com outras provas constantes no inquérito, a polícia confirmou que tal encontro serviu para planejar a tentativa de homicídio de Valdenício Cabral Cardoso, o “Nilsinho”, que escapou do atentado ocorrido às 5h30 do dia 13 de maio, em São Paulo do Potengi. “Nilsinho” sofreu a tentativa de morte com o mesmo modus operandi do bando. “Eles agem quase sempre da mesma forma. Em duplas e em motos. O garupa atira sem que a vítima tenha tempo de reagir, inclusive deflagrando tiros pelas costas”, disse um investigador.
Outro vídeo que demonstra a ligação de policiais com criminosos flagrou o PM Marinaldo Gomes de Oliveira, preso na ação contra o tráfico de arma, entregando uma espingarda calibre 12 a Márcio Valério.
A investigação descortina a ação do grupo criminoso em detalhes. No dia 6 de março, os investigadores flagraram Márcio Valério entrando na viatura NNR-1786, do 4º CIPM, em São Paulo do Potengi. Os policiais foram pegá-lo em casa, na Zona Norte de Natal. Outros vídeos feitos pelo Serviço de Inteligência mostram pessoas civis, investigadas por pistolagem, circulando livremente dentro de viaturas. Márcio Valério e Wesley Breno aparecem em vários vídeos. A investigação foi desencadeada em etapas devido à necessidade de sigilo e continuidade das diligências. Foi necessária, inclusive, a colaboração da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em algumas operações de cobertura e contra-informação para o desfecho positivo do caso, o que demonstrou alto grau de profissionalismo dos policiais civil. Exemplo, foi a prisão no dia 11 de maio do sargento da PM João Francisco de Souza, 50 anos, e mais dois homens detidos pela PRF em Mossoró com 1.235 munições de calibres diversos, 15,5 kg de pólvora. 15.000 espoletas, além de quatro armas. Os investigadores solicitaram a colaboração da PRF para evitar que os demais acusados suspeitassem da investigação. O trio é suspeito de comercialização ilegal de armas e munições.
O ponto alto dessa investigação foi à deflagração, no dia 10 de junho, das Operações “Jabulani” e “Laduma”. A polícia prendeu 11 pessoas investigadas no esquema de compra e venda de armas e munições usadas por bandidos em crimes de execução. Entre os presos estão três policiais militares. Foram apreendidas 22 armas de fogo, centenas de munições e meia tonelada de pólvora. A ação foi bem sucedida, sobretudo, em decorrência do sigilo após a prisão realizada pela PRF.
Os seis acusados de envolvimento em crimes de morte são os PMs Sandro Richele de Araújo e Marcos Valério de Medeiros Dantas, além de Wesley Breno de Araújo, Márcio Valério (irmão do PM Marcos), Everaldo Matias, além do comerciante Eronildes Cândido. Os outros presos são investigados pelo tráfico e de armas e, alguns, por envolvimento em homicídios.
Os delegados integrantes da comissão adiantam que o trabalho investigativo continua, mas ressaltam que essa organização criminosa com base em São Paulo do Potengi e na Grande Natal está praticamente desmantelada, embora outros crimes precisem ser esclarecidos.
Homicídios continuam em queda
Os índices de criminalidade continuam em queda na Grande Natal. O número de homicídios apresenta redução de 38,8% no mês de julho deste ano se comparado ao mesmo período de 2009. A redução em julho é maior do que as registradas nos abril, maio, junho deste ano, que na mesma comparação com 2009, obtiveram redução de 24,4%. O secretário da Segurança Pública e da Defesa Social, desembargador Cristóvam Praxedes, atribui essa queda as prisões decorrente das investigações de crimes de morte com característica de execução conduzidas pela Polícia Civil e ao reforço no policiamento ostensivo da Polícia Militar. “Os índices de homicídios decaíram principalmente na Zona Norte de Natal”, afirma o secretário. Os dados referentes à pesquisa foram obtidos no Instituto Técnico Científico de Polícia (Itep) através dos laudos de exame cadavérico. Como toda vítima de morte violenta tem que ser encaminhada ao necrotério do Itep para liberação dos documentos para o sepultamento, os dados obtidos são altamente fies a realidade.
PUNIÇÕES
A Sesed têm agido com rigor contra os maus policiais. Desde abril, quando tomou posse o secretário Cristóvam Praxedes, oito policiais já foram expulsos e outros nove aguardam a solução de sindicância e podem ser excluídos a bem da sociedade. Além disso, outros dois PMs foram presos acusados de homicídios e um deles é acusado de integrar um grupo de extermínio que agia na Zona Norte. Esse último caso é investigado pela Divisão de Combate ao Crime Organizado (Deicor).
Polícia Civil implantará a Divisão de Homicídios
Com a conclusão do Curso de Formação de 572 novos policiais civis (agentes, escrivães e delegados), previsto para novembro, a Polícia Civil iniciará o projeto de criação da Divisão de Homicídios para atender ocorrências na Grande Natal e uma Delegacia de Homicídios em Mossoró. A nova Divisão será responsável pelo atendimento de ocorrências de homicídios cuja autoria não está definida. Os demais casos continuam sendo investigados pelas delegacias distritais. Com novos recursos humanos, a Divisão iniciará os trabalhos na Grande Natal e a DP em Mossoró. Esses municípios terão um plantão permanente, inclusive dispondo de perícia específica para esse tipo de investigação. O projeto já está pronto na Secretaria da Segurança Pública e da Defesa Social e aguarda apenas a nomeação dos novos policiais. O reforço no efetivo da Polícia Civil é da ordem de 40% do quadro de pessoal atual.
RESULTADO DA INVESTIGAÇÃO:
• 12 presos preventivamente por ordem judicial, sendo três PMs;
• 1 espingardas calibre 22;
• 1 espingarda calibre 32;
• 1 fuzil calibre 762;
• 3 pistolas calibre 380;
• 3 espingardas calibre 12;
• 19 revólveres calibre 38;
• Centenas de munições de calibres 9 milímetros, 12, .40, 44, 45 e 38;
• Meia tonelada de pólvora;
• 15.000 espoletas;
• Capuzes, algemas e dinheiro.
*Todos os PMs que aparecem nas fotos e vídeos são acusados de tráfico de armas.